
​Adão Nunes Borges – mestre Careca – nasceu em Juazeiro/BA, em fevereiro de 1952. Casado, pai de três filhas e avô de seis netos, o capoeirista Mestre Careca (como ficou conhecido) encontrou-se com a capoeira na base naval de Aratu, em Salvador-BA, no ano de 1971.
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Na época, o jovem, de apenas 19 anos de idade, foi apresentado a outras lutas, mas escolheu a capoeira, pois sentia ali um pertencimento cultural maior. Desde então, não parou. Ainda nos anos de 1970, Adão chegou a morar em Poá, São Paulo, e lá praticava capoeira de rua. Depois, ao mudar-se para Pirapora na década de 1980, sentiu necessidade de se formar em uma academia, pois, segundo ele, apenas nesse espaço o capoeirista pode ser doutrinado.
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Nos anos 80, o cenário da capoeira em Pirapora-MG era composto por três mestres formadores, Mazinho, Mestre Boca e Mestre Zezão; com este último, mestre Careca começou a treinar em 1981. “O mestre Zezão, eu me inspiro nele, nós andamos juntos quase 37 anos de capoeira (...) nós íamos nos eventos sem dinheiro, no amor e na garra”. Com 50 anos de trajetória na capoeira, com participação em vários eventos pelo Brasil a fora e tendo sido mestre de muitos alunos, inclusive da própria filha, a também mestre capoeirista Luciana Galiza, Careca ensina para os que estão por vir: “a capoeira tem uma estrada muito longa (...) não olho para a graduação, olho para o que aprendi”.
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Mestre Careca ensina capoeira Angola e tem como inspiração o baiano Mestre Pastinha, pioneiro na categoria. Nessa modalidade, os movimentos são jogados no chão, e o som dos instrumentos que acompanham o jogo são mais “lentos”: “Angola é no chão. A gente faz os movimentos mais embaixo, o jogo de cima é diferente” (...) Angola a gente joga em qualquer lugar; no jogo de cima, tem que ter espaço, porque é mais rápido (...) o jogo é um jogo de vadiagem, de brincadeira (...) os golpes são jogados embaixo (...) o movimento é lento”.
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Em 1994, Mestre Careca fundou a Associação Amaê Berimbarte, que atende de forma gratuita cerca de 50 alunos no bairro Nossa Senhora do Rosário, em Pirapora. Careca atua como presidente e professor de capoeira e berimbau; enquanto sua filha, Luciana Galiza, cuida das demandas administrativas e, também, leciona aulas de capoeira e música. Hoje, o Mestre lamenta não ter um espaço físico maior para ensinar capoeira; muitas vezes, ele, Luciana e os alunos precisam se deslocar até a rua para que a aula aconteça.
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O espaço de ensino construído por Mestre Careca e Mestre Luciana Galiza, ao longo de tantos anos, é também um lugar de socialização, de acolhimento, de cuidado: “Capoeira não é só levantar o pé e jogar, capoeira é sabedoria” (...) A capoeira é tudo, ela é saúde, é educação física, é uma terapia. Cê pode tá com o problema que tiver, mas chegou na academia, abriu as portas, fez um treino, pegou o berimbau, tocou, cantou; aquela tristeza, aquela dor vai embora”.
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Com a sabedoria construída até aqui, lenta como os movimentos da capoeira de Angola, Mestre Careca segue, aos quase 70 anos, levando o título que o tempo lhe deu: “Não preciso falar que sou mestre, o tempo me fez mestre”; e não desanima, pois, “A capoeira não pode parar. Seja valente igual a capoeira é; igual aos nossos mestres que já partiram”.
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