
SABERES
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A casa ribeirinha conserva um mutirão de vozes e costumes que ecoam pelos bairros e pela cidade inteira. São eles que nos contam sobre o cotidiano de um povo, da hora em que o sol se levanta até o momento em que ele se põe, todo alaranjado sobre o céu. Em cada espaço desse pequeno chão, em cada parede, se assenta a vida, o dia a dia que não cessa de acontecer.
Ao amanhecer, nessa casa, coloca-se o café quente na mesa e, na falta o cuscuz, a farinha, o xiriri estão sempre ali para acalmar a fome.
As crianças saem todas arrumadinhas, seguem para missa das 7 e só depois de muita avemaria, é que voltam para brincar no quintal, na porta da rua. O barulho das risadas e brincadeiras preenchem os cômodos e se mistura ao som da máquina de costura que atravessa veloz o tecido.
Na hora do almoço, a costura fica pra depois. A meninada retorna e se aquieta à beira do fogão ou da mesa. E, nesse momento, a música que toma conta da casa é outra. As panelas formam uma sinfonia diversa de cheiros e cores tão familiar, que quase ninguém nota.
É domingo. Hoje o leiteiro não passou. Uma vizinha chama à porta para pedir um pouco de arroz. Abre-se a lata na cozinha, faz-se o empréstimo do que não se ousa pedir de volta. Os que saíram para o trabalho, terminaram mais cedo o dia e começam a chegar, retiram as botas, guardam as ferramentas que tilintam na parede, suspiram alto o cansaço da lida.
(O rádio chia ao fundo, baixinho, baixinho).
Os ruídos quase silenciosos são cortados pela voz do desavisado que chega e grita já da porta:
- O que tem pro almoço hoje?
A resposta vem de volta:
- Domingo é dia de frango, menino. Parece até que é broco.
(Este pequeno conto introduz de algum modo a temática desta galeria, destinada a evidenciar os saberes, práticas circunscritas ao espaço doméstico, à sabedoria ancestral, às superstições, receitas, etc.).
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