
GENTE E TERRITÓRIO

Rio acima, rio abaixo – Pirapora, gente e memória
Pirapora está localizada no Vale do Rio São Francisco, às margens de um dos maiores trechos navegáveis do rio da integração. Pelo curso dessas águas, conta a história, os índios Cariris vieram parar aqui, para fugir à ameaça do “homem branco” que se alastrava em uma das pontas do nordeste. Algumas décadas depois, o processo de urbanização – firmadas no marco da construção da ferrovia, ponte velha, cais – somada às indas e vindas dos vapores trouxeram trabalhadores de outras partes do Norte de Minas e Bahia, das localidades também atravessadas pelo rio.
Do ponto de vista da mobilidade, Pirapora firma-se em um local estratégico, já que além dos vapores que faziam a travessia entre Pernambuco, Bahia e Pirapora, havia também o trem que viajava até São Paulo. Por causa dessa possibilidade de trânsito, muitos imigravam para cá com o objetivo de pegar o trem e seguir viagem, mas nem todos conseguiam continuar. Outros, empregados da Companhia de Navegação, chegavam e firmavam residência e, aos poucos, a cidade crescia sob as mãos e criatividade dessas tantas pessoas trazidas pelo curso d’água.
Há outro momento que marca a intensidade desses trânsitos. Em meados do século XX, com a construção da barragem de Sobradinho, cidades baianas, como Casa Nova, Santana, Remanso etc. desapareceram, engolidas pela água. Os milhares de habitantes que ali viviam, perderam suas terras e desceram o rio em direção à Pirapora. Aqui fizeram morada, formaram famílias.
Essa é a história contada nas cantigas de lavadeiras, nos almoços de domingos, nos contos de pescador, nas danças, terreiros, rodas de São Gonçalo, Folia de Reis, nas receitas, na arquitetura, nas portas das casas sempre abertas no final da tarde e nos saberes dos que nos ensinam a sobrevivência cotidiana nas beiras de cá deste rio.