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EXPEDITO VIANA

Expedito Viana é um dos quatro filhos de uma família baiana, nascido em setembro de 1953. Artista por vocação e profissão, marceneiro e carranqueiro, Expedido coleciona histórias de uma profissão comum em cidades ribeirinhas – a de escultor de carrancas – e que vemos se perder pela falta de incentivo público e criação de novas gerações que façam o trabalho que os mais velhos ensinam. 

Esse artista múltiplo, talhador de muitas formas sob a madeira, é natural de Santana do Sobrado, Bahia – próximo ao distrito em foi construída a barragem sobradinho. O pai era também marceneiro e construía embarcações com o irmão, a mãe era costureira e artesã. Expedito se orgulha de seu autodidatismo como escultor e conta que: “ainda infância, comecei a fazer trabalhos, miniaturas e os meus brinquedos, através do meu pai que trabalhava com as ferramentas (...)”. Segundo ele, basta desenhar algo e já consegue imaginar a forma sendo feita na madeira. 

O rompimento da barragem, construída pela Companhia Hidrelétrica do São Francisco, que fez desaparecer cidades, como Remanso, Casa Nova, Sento-Sé e Pilão Arcado, foi também responsável pelo deslocamento da família de Expedito da Bahia a Pirapora. Embarcaram em 1974, no Vapor São Francisco, conforme conta: “depois do rompimento da barragem, nós fomos um dos primeiros a sermos indenizados pela Companhia Hidrelétrica do São Francisco. A partir daí, minha mãe decidiu vir para Pirapora, onde os irmãos moravam, que também é margem do rio (...) viemos no Vapor São Francisco”. 

Expedito continuou o ofício que aprendera na Bahia, “sempre se dedicando a fazer os trabalhos com perfeição”. O artista revela que teve um grande incentivador em sua trajetória, em Pirapora, o Raimundo Boaventura Leite – Dedeco. Mas o gosto pelas carracas aprendeu mesmo foi com outro barranqueiro, o baiano Guarani. “A carranca é arte tradicional ribeirinha, quem começou é nascido na margem do São Francisco também, o Guarany¹”. 

Suas esculturas e carrancas foram reconhecidas em vários Estados do Brasil e até mesmo no exterior. Ele conta sobre as minuciosidades de seu trabalho, que independem do tamanho da peça. O escultor se lembra com orgulho de ter talhado uma carranca “cuja base media seu comprimento” e diz ainda ter tido que entrar na boca da peça para talhar-lhe os dentes, tão grandiosa que era. Os feitos do passado envolvem não só esculturas de toda natureza, como o São Francisco – localizado no início da avenida Salmeron – mas algumas viagens para capitais do Sudeste, como Rio de Janeiro, São Paulo e o nordeste, na Bahia, onde ele apresentava suas peças.] 

Hoje, Expedito mora com a família em uma casa no Santos Dumont, onde tem um pequeno ateliê. O artista observa que nunca teve incentivo financeiro que não adviesse da sua prática com a arte. Afirma que sempre trabalhou e trabalha por encomenda e não se preocupa com o tempo de finalização da peça, já que são sempre ricas em detalhes. Essa vocação e talento foi o que promoveu o seu sustento e de sua família. Ao falar de outros mestres carranqueiros, Expedito diz que: “morreram muitos carranqueiros amigos meus, outras pararam, porque a arte, a cultura não tem apoio. (...) Eu, como estava dizendo, procurei me aperfeiçoar e fui conseguindo encomenda. E vivi disso, só trabalhava por encomenda. Mas tem que ter um incentivo”. Ainda assim, Seu Expedito Viana continua seu ofício, sempre que há matéria-prima e encomenda disponível. Seu trabalho, a despeito do tempo, segue impecável. 

¹  Expedido refere-se ao baiano Francisco Biquiba Guarany.

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