
Ilê Axé Odéjun Queá
O Ilê Axé Odéjun Queá é um terreiro de candomblé da nação de Angola, fundado por Maria Josina, em 1964. É uma das casas de candomblé mais antigas da cidade, ainda em funcionamento. Hoje, o Ilê é cuidado pela filha de Josina, Rosinalva Teixeira, conhecida como Nalvinha de Iemanjá. No mesmo local, funciona ainda a Casa de Cultura Afro Gerais, coordenada também por Rosinalva.
Casa de Cultura Afro Gerais
É uma organização Social Civil sem fins lucrativos, fundada em 2012 por Rosinalva Teixeira da Silva.
A instituição localiza-se à rua Liberdade, 190, no bairro Nossa Senhora Aparecida. Nesse espaço são realizadas ações sociais e educacionais voltadas à dignidade humana e preservação do patrimônio imaterial afro-brasileiro. Atualmente, a Casa de Cultura é certificada como Ponto Cultural e é vencedora de prêmios, como o Prêmio de Culturas Populares – edição Leandro Gomes, em 2017; e o Fundo Estadual de Cultura, em 2015.
Dentre as atividades desenvolvidas pela organização, estão presentes aulas de capoeira, artesanato, música, dança e organização de eventos voltados à valorização da cultura popular. Todas as atividades são ofertadas à comunidade de forma gratuita.
O funcionamento é atualmente garantido por recursos oriundos da aprovação de projetos em editais de fomento à cultura.
Maria Curtinha (1924 – 2005)
Maria Josina, nascida em 16 de setembro de 1924, em Pernambuco, foi uma importante e conhecida Ialorixá em Pirapora- MG. Popularmente conhecida como Maria Curtinha, mãe de santo fundadora do Ilê Axé Odéjun Queá, cumpre sua trajetória de vida e espírito em um trânsito que envolve o Nordeste e o Norte de Minas Gerais.
Nascida em Pernambuco, mudou-se com a família para Juazeiro-BA, quando criança. Perdeu a mãe biológica ainda cedo. Após o falecimento da mãe, seguiu para a capital baiana, Salvador- BA, com o irmão, que à época era praça. Este, foi convocado para lutar em terras estrangeiras, durante a Segunda Guerra Mundial. Após a partida do irmão, Maria retornou à Juazeiro, casou-se com um marinheiro fluvial (vapozeiro) baiano, chamado Augusto Lino dos Santos. Nesse momento de sua vida, ela mudou-se, com o companheiro, para Pirapora- MG.
Maria Josina não chegou à cidade como a mãe de santo que ficou conhecida. Contam as filhas adotivas, Amália Maurícia de Deus e Rosinalva Teixeira que a mãe recorreu à espiritualidade motivada por uma dor de cabeça que, aparentemente, não tinha cura. A partir daí, começou a frequentar um centro de umbanda na cidade, chamado Centro Ogum Delamar de Ronda. A zeladora do referido centro, conhecida como Amália, foi assassinada. Após o ocorrido, seus filhos seguiram em frente, abriram suas próprias casas. Maria Curtinha foi uma delas. Assim, em 1964, ano do golpe militar brasileiro, nasce, em Pirapora, o Ilê Axé Odéjun Queá.
O Ilê, ainda em funcionamento, fica localizado na Rua da Liberdade, no bairro Aparecida. Maria Curtinha como ficou conhecida, graças à baixa estatura, deitou-se para o orixá Oxóssi e sua casa é fundamentada na Nação de Angola. Além de ter iniciado muitos filhos de santo na religião, Curtinha criou sete filhos adotivos. As filhas Amália – conhecida carinhosamente como Bá –, e Rosinalva relatam a imagem de uma mãe extremamente caridosa que não negava ajuda às famílias que batiam à sua porta.
A casa não possuía apenas função espiritual, mas também social. O local abrigava uma escola, frequentada pelos moradores do bairro, e fazia distribuição de sopão. O terreiro, segundo lembram as filhas e os mais antigos, era um lugar muito movimentado. Anualmente, Seu Cachoeira, Exu de Maria Curtinha, fazia presença como o protagonista de uma festa feita em sua homenagem. O evento lotava a casa.
Maria Josina, de Oxóssi, faleceu em agosto de 2005, mas deixou uma casa e um legado. Deixou também uma filha que se dedica a zelar pelo Ilê, a Rosinalva Teixeira; e outra, a Amália que, em um ato de rebeldia, desobedeceu ao Exu de sua mãe, que lhe pediu que jogasse no rio todos os registros feitos ao longo das atividades da casa. Graças a elas, podemos conhecer, ainda que brevemente, a memória de uma das primeiras Ialorixás da cidade.
Rosinalva Teixeira da Silva – Nalvinha de Iemanjá
Rosinalva Teixeira da Silva é piraporense, nascida em novembro de 1972. Chegou à casa de Maria Josina (Maria Curtinha) com apenas um mês de nascida e foi adotada por ela.
Nalvinha de Iemanjá, como é conhecida na região, é a atual zeladora do Ilê Axé Odéjun Queá, fundado por sua mãe. Curtinha, antes de morrer, fez um pedido, que Rosinalva narra da seguinte forma: “Mãe, no leito de morte, tinha me feito um pedido: não deixar o centro cair. Eu falei que não ia deixar. Só que para mim não deixar o Centro cair era não deixar as paredes caírem, o teto cair, não entendia como a continuidade do trabalho espiritual”.
A casa ficou fechada por um tempo, após a morte de Maria Curtinha, em 2005. Quando Nalva decidiu reabrir a Casa, não o fez para um grande público. À princípio, as rezas eram feitas internamente, com um pequeno grupo, pois, à época, Nalvinha era ainda uma abian.
O trabalho social iniciado pela mãe também não foi abandonado. Em 2012, Nalvinha fundou a Casa de Cultura Afro Gerais, lugar em que oferece atividades voltadas à preservação da cultura afro-brasileira para a comunidade local.
Em 2013, a filha de Maria Curtinha que, segundo conta a irmã Amália, sempre foi engajada no candomblé, decide dar seguimento à sua evolução espiritual e “deita-se para o seu orixá”, tornando-se yaô. A partir daí, timidamente, Nalvinha reabre as portas de um dos terreiros mais tradicionais da cidade para a comunidade externa.
Ela se considera, junto aos orixás, uma zeladora da Casa da mãe. Mas, pretende expandi-la e inaugurar o seu Ilê de Iemanjá, quando completar sua obrigação de sete anos, que permitirá a já conhecida “mãe Nalvinha” o posto de Ialorixá. Embora sua iniciação tenha sido na nação de Ketu, Rosinalva salienta que preserva as raízes de Angola, deixadas pela mãe, bem como o trabalho social que Maria Curtinha já executava.
Mãe Nalvinha, como é carinhosamente conhecida pelos filhos do Ilê Odéjun, leva adiante o trabalho iniciado por Maria Curtinha, mas segue também os próprios passos, com respeito e afeto pela trajetória da mãe. Em suas palavras: “tudo que faço é em memória dela. Em gratidão a ela”.